terça-feira, 6 de novembro de 2007

Fragmentos de Godard

para os que não estão familiarizados, uma pequena amostra de alguns dos filmes mais cultuados do renomado diretor francês Jean-Luc Godard.

O Acossado (À bout de souffle), 1960



Uma mulher é uma mulher (Une femme est une femme), 1961




Bande à part (Bande à part), 1964




Alphaville (Alphaville, une étrange aventure de Lemmy Caution), 1965




O Demônio das Onze Horas (Pierrot, Le Fou), 1965




no próximo post falarei mais sobre o diretor e o movimento que ficou conhecido por Nouvelle Vague, grande marco para a cinematografia em âmbito mundial.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

L'Année dernière à Marienbad


“Uma vez mais avanço, uma vez mais, ao longo destes corredores, através destes salões, estas galerias, nesta construção de um outro século, este hotel imenso, luxuoso, barroco – lúgubre, onde corredores intermináveis se sucedem – silenciosos, desertos, carregados de um cenário sombrio e frio de lambris, de estuque, de painéis emoldurados, mármores, espelhos negros, quadros com matizes negros, colunas, pesados estofos – molduras esculpidas de portas, fileiras de portas, de galerias – corredores transversais que desembocam, por sua vez, em salões desertos, sobrecarregados por adornos de outro século. Salas silenciosas, onde os passos de quem anda são abafados por tapetes tão pesados e espessos que nenhum barulho chega a ser ouvido, como se o ouvido de quem anda por esses corredores, pelos salões e galerias da construção de outro século, esse hotel imenso, luxuoso, barroco, lúgubre, onde os corredores sem fim se sucedem a outros por adornos escuros, forros de madeira, tetos, painéis emoldurados, mármores, espelhos negros, quadros com tintas pretas, colunas, molduras esculpidas, fileiras de portas, galerias... Corredores transversais... Não detectam nenhum barulho, como se o ouvido estivesse muito longe, longe da sala, dos tapetes, do cenário pesado e vazio, bem longe desse friso que corre sob o teto, com seus ramos e coroas, como folhagens antigas, como se o chão fosse ainda de areia e pedregulho, os ladrilhos de pedra, por onde eu ia, mais uma vez, como se fosse ao seu encontro, por entre essas paredes revestidas de madeira, tetos, molduras, quadros, gravuras emolduradas por entre as quais eu vinha, por entre as quais eu já estava, eu mesmo, à sua espera, bem longe desse cenário onde me encontro agora, à sua frente, à espera ainda daquele que já não virá mais, que não poderá mais nos separar...”


Na mesma década em que Godard e outros diretores franceses inauguravam a Nouvelle Vague, movimento que propunha uma ruptura com o modelo clássico estético e narrativo, Resnais lançava juntamente com Robbe-Grillet O Ano Passado em Marienbad, obra prima que extrapolava os limites do que poderia se considerar inovação formal e até hoje é analisada e aclamada por conhecedores e apreciadores de Cinema.


O filme não é baseado numa lógica clássico-narrativa de começo, meio e fim bem delineados. A trama que permeia a relação entre os personagens é simples: os conflitos entre desejo e prudência de um homem e uma mulher adúltera, ambos hospedados em um luxuoso hotel. No entanto, considero um tanto restritivo falar em “trama” ao se tratar de um filme que vai além da adaptação do discurso literário à tela de cinema, e ouso dizer, segue uma lógica não-linear, característica dos pensamentos, da memória. Objetos, cenários e acontecimentos presentes – e por “presente” eu me refiro aos episódios retratados no que seria o “instante atual” e não “memória passada” do filme, ainda que os tempos se confundam por diversas vezes, pois, repito, a própria noção de tempo não se limita à conjunção entre passado-presente-futuro ou começo-meio-fim – são dotados de uma carga simbólica que ativa a memória do narrador, o confundem, se mesclam a imagens vividas e o personagem já não sabe mais se de fato as viveu ou as imaginou, em seu eterno-retorno, em seu incessante dejà vu.


Os detalhes, molduras, os quadros, tudo remete a um labirinto, figuras intrincadas e confusas, o jardim de árvores podadas em formatos geométricos. Assim como a narração inicial, cíclica, concomitante aos travellings que a câmera executa acompanhando os adornos barrocos e opulentos do hotel. Mais afrente, a narração em off se confunde ao texto do teatro que os espectadores, hóspedes do hotel, parecem assistir sem atenção alguma, oscilando entre momentos de plena agitação e momentos de introspecção solene e aparente congelamento da imagem.


Outro aspecto peculiar inerente à Marienbad é a trilha sonora. Sempre a mesma melodia ressoando de forma hipnótica e intensa durante o decorrer das cenas, conferindo mais dramaticidade aos encontros dos personagens centrais. O espectador do filme é convidado e, por que não dizer, compelido a aderir ao transe daquelas pessoas, àquela confusão de sentimentos, datas, locais, lembranças.


Personagens, em estado catártico, vagueiam pelo suntuoso hotel, falando sobre os mesmos assuntos de forma descontínua, vivendo a mesma vida. Suas palavras não condizem com o que seus corpos errantes pelos longos corredores de mármore parecem provocar, em sua valsa lúgubre e sombria, no acaso forjado por eles próprios. O ano passado, esse ano. Em Friedrichsbad ou Marienbad. Tanto faz. E pouco lhes importa.


“O parque deste hotel era uma espécie de jardim à francesa, sem árvores, sem flores, sem vegetação alguma... O cascalho, a pedra, o mármore, a linha reta, marcavam ali espaços rígidos, superfícies sem mistério. Parecia, à primeira vista, impossível se perder ali... à primeira vista... ao longo das aléias retilíneas, entre as estátuas de gesto fixo e as lajes de granito, onde você estava agora na iminência de se perder para sempre, na noite tranqüila, sozinha comigo.”

Sem dúvidas, um dos meus filmes favoritos. Recomendo a todos aqueles que desejam ampliar sua noção do que é Cinema, alternativo ou não, simplesmente Cinema.

sábado, 13 de outubro de 2007

Michel Gondry

para quem gosta de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e Gael García Bernal:
The Science of Sleep (La Science des Réves), novo filme de Michel Gondry.

sábado, 6 de outubro de 2007

A cada um seu cinema


da comemoração aos 60 anos do Festival de Cannes, nasceu A cada um seu cinema (do original em francês Chacun son cinéma), filme-compilação de inúmeros curtas dirigidos por cineastas mundialmente famosos e premiados, como Wong Kar Wai, Manoel de Oliveira, David Cronenberg, Lars Von Trier, Gus Van Sant, Roman Polanski e Walter Salles.
a temática que permeia e interliga os 35 curtas? o cinema. o que motiva esses profissionais da cinematografia? o que os inspira? o que os encanta na sétima arte e de que forma esse encantamento é extravasado para a própria tela de cinema?
a iniciativa arregimentada e produzida pela Cannes Film Festival e pela Elzévir Films é realmente interessante, uma verdadeira carta de amor escrita pelas mãos de quem move a indústria cinematográfica sem deixar que morra o cinema como forma de expressão artística.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Sem Fôlego


em tempos de Festival do Rio, como não falar desse grande evento que faz cinéfilos de toda a cidade desenvolverem o superpoder-da-locomoção-na-velocidade-da-luz para conseguirem ver na mesma tarde um Tarantino no Barra Point e um Todd Haynes no São Luiz?
ontem - vergonhosamente só ontem - tive a oportunidade de assistir ao meu primeiríssimo filme do festival: Sem Fôlego.
obra do sul-coreano Kim Ki-Duk (de Time, Casa Vazia e Primavera, Verão, Outono, Inverno.. e Primavera), que assina não só a direção como também o roteiro do longa, Sem Fôlego, ao contrário do que muitos podem vir a pensar de um filme oriental, prende a atenção durante seus 89 minutos de duração. não apenas por uma bela fotografia cheia de demarcações sazonais, cores, flores, folhas, neve - característica presente nos filmes do diretor -, mas, sobretudo, por um certo incômodo que transmite, talvez uma angústia abafada, um sufocar que dura quase uma hora e meia e faz o espectador sorver até o último sopro de vida daqueles personagens.
Sem Fôlego não é um filme fácil. conta a história de duas pessoas, um homem e uma mulher, ambos restringidos ao confinamento, sendo seu cárcere um luxuoso e moderno apartamento ou uma cela no corredor da morte. suas vidas se cruzam e à despeito do rigoroso inverno, vivem juntos o calor e as frivolidades das outras três estações do ano. dessa forma, seus limites e sentenças não mais são suficientes para emudecê-los e passam a enxergar nesse amor tão improvável, nascido no meio do cinza, onde afeto algum deveria germinar, uma razão para aceitar e seguir. e, enfim, o alçar de asas sob o teto de um presídio. o permitir se encher como um balão debaixo d'água. o sufocar infligido por um beijo. todas as suas formas de liberdade e redenção.
ok, não vou falar mais pra não estragar o filme para aqueles que tiverem algum interesse em assistí-lo durante o festival. para estes, Sem Fôlego ainda pode ser visto nos seguintes horários:

sábado, 29/09/2007 às 17:45h e às 22:15h no estação Ipanema 1

os ingressos podem ser comprados na Central de Ingressos (vulgo Espaço Unibanco, lá na parte de dentro), pelo site www.ingresso.com.br (atenção: taxa de INconveniência cobrada em cima do valor do ingresso, que de R$6,50 passa para R$8,90) ou no próprio cinema em que o filme será exibido.
por Flávia Chapot

domingo, 23 de setembro de 2007

Luz, câmera... ação!

E, afinal, o que é Cinema? Ora, eu poderia enumerar mil e uma respostas a essa pergunta. Eu poderia assumir uma visão calcada no aspecto mais técnico da coisa e dizer que o Cinema nada mais é senão uma tecnologia desenvolvida a partir do advento do cinematógrafo, através do qual são projetados xis fotogramas por segundo, criando, assim, a impressão de movimento. Ou talvez, adotando uma faceta politizado-fervorosa, afirmaria que é um meio de difusão de determinada ideologia, que, misturada ao sabor fácil e insosso de um balde de pipoca tamanho supercomboextralarge, é ingerida, deglutida e absorvida, sem que o espectador se dê conta desse processo. Num terceiro momento, eu repudiaria o Cinema como forma de entretenimento e aceitaria apenas o Cinema que pensa, a expressão artística que esse meio é passível de veicular, ou ainda, de transmitir. Também poderia dizer o extremo oposto, que o cinema serve apenas para entreter as massas e, essa sua função primordial, desempenha com primazia.
Não. Nesse blog, eu não pretendo abarcar ou tampouco rejeitar nenhuma dessas vertentes ou me posicionar diante delas. Me proponho a falar do que eu considero ser Cinema Alternativo. Resenhas, críticas, dicas e informações sobre filmes cult, desde os clássicos aos recém-lançados, todas as películas que, por motivos que não importam aqui, são relegadas a círculos de discussão compostos por cinéfilos aficcionados por Billy Wilder e cafeína, e que só são encontradas em salas de cinema do circuito alternativo ou no canto empoeirado da sua videolocadora.


por Flávia Chapot.